Músicas, Seriedades, Burridades e Coisas Ogonorantes.

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segunda-feira, 23 de abril de 2012

A morte do Gojoba.

O Gojoba tinha 26 anos, era auxiliar de pedreiro, morava numa favela com a família toda: pai, mãe, 12 irmãos, 3 tias, 5 tios e seus avós paternos e maternos, além dos sobrinhos das irmãs fudonas. Naquele dia fatídico o Gojoba estava à cata de emprego e havia recebido uma dica do pedreiro Adamastor, sobre a possibilidade de um emprego numa obra do Supermercado Miséria. Pegou emprestada a bicicleta velha do vizinho e partiu para o endereço informado pelo Adamastor. No trajeto foi atravessar a Rodovia Deus Te Pega, e foi atropelado pelo Borox, o filho do sexto homem mais rico do mundo, o Gaxtão, que caga ouro e tem pedras de diamantes nos rins. O acidente foi tão feio que o Gojoba não teve nem tempo de fazer o sinal da cruz, morreu na hora de olhos arregalados. O Borox para não ser taxado pela imprensa como irresponsável e filhinho de barão, prestou socorro em vão à vítima. Através do celular cravejado de rubis, ligou e pediu a ambulância do hospital Só Morre Quem Não Tem Grana, o mais badalado do pedaço. A ambulância tem macas de liga de carbono, cobertas com lençóis de linho egípcio, é toda banhada a ouro e seu motorista é Phd em física nuclear, ganha DAS 9. Colocaram o Gojoba dentro e partiram para o necrotério. A família do rapaz estava toda em casa, ouvindo pelo rádio o flamengo ser desclassificado da libertadores, com uma fome da porra, quando chega o mensageiro Kevin Costner levando a triste notícia. Foi uma choradeira e uma gritaria infernal, as tias tendo chiliques, a mãe um trololó, as avós com pressão alta. Gojoba podia até ser feio, zarolho e sem dente, mas era a única esperança da família. O pai, avôs e tios se armaram de porrete e terçado e partiram na busca do atropelador. Antes que cometessem alguma barbárie, foram convidados a irem até a casa do Gaxtão. A limusine de 60 lugares veio pegá-los. Antes levou todos para um lava-jato para tomarem banho, enquanto a limusine era descontaminada e desinfetada. Com odor mais aceitável a turma chegou na casa do Gaxtão, foram acomodados na sala de visitas, toda em mármore Carrara, na sua tonalidade rara azul turquesa, sentaram em sofás de pluma de ganso revestidos em sedas da Turquia. Os pés, vários deles coalhados de frieiras e bichos de pé, pisavam pela primeira vez, tapetes Persas. Enquanto aguardavam curiosos, alguém para explicar-lhes a razão de estarem ali, o corpo do Gojoba era autopsiado no IML pelo Doutor e Arqueólogo Egípcio Ramsés 614, especialista em mumificar mutuns e poraquês. O primeiro corte que fizeram no cadáver do Gojoba provocou um alvoroço no prédio. Máscaras de gases foram distribuídas a todos os funcionários, pois o homem inerte e morto, havia comido na véspera um sanduba de mortadela Mandinga, com ovo de codorna albina e um pouquinho de óleo de gordura de guaiamum apimentado, além de um litro de tubaína de camapu. Depois de tirarem aquela gororoba das tripas do Gojoba, o Dr. Ramsés 614 iniciou seu trabalho de dar um banho de loja no cadáver. No mesmo instante o trilhardário Gaxtão, ajeita as pedras preciosas de sua vesícula e adentra a sala de visita, onde os familiares estupefatos do Gojoba aguardavam. Começa agradecendo a presença de todos, e se disse muito comovido com a perda do grande Gojoba. E antes de revelar a verdade que seu filho Borox cometera, puxa uma maleta Luiz Vuitton recheada de dólares e algumas notas de R$ 2,00 por cima, pois segundo seu assessor financeiro pobre só conhece esse tipo de dinheiro e moeda. Explica que aquele dinheirinho é para ajudar no sustento da família por 5 dias, e que pelo restante de suas vidas iriam receber mensalmente, cada um, incluindo até as crianças, R$ 5.000,00 em moedas de R$ 0,50 centavos, 1 celular de 2 chips, crédito de R$ 20,00 para cada operadora, 30 vales transportes e 15 tickets refeição. Era a única maneira que encontrou para reparar o acidente, que seu filho Borox cometera e que ceifou a vida do Gojoba. O pai do Gojoba pediu a palavra, e agradeceu muito a bondade do “seu” Gaxtão. Disse que o Gojoba era um cachaceiro, filha da puta, só vivia chamando palavrão, dava na mãe e era um barbeiro dirigindo bicicleta. Os tios e avós engrossaram o coro e enxovalharam mais ainda a biografia do Gojoba com outros impropérios. Depois da saraivada de acusações contra o morto, o Gaxtão pediu que todos fossem as lojas de seu shopping e pegassem as vestimentas adequadas para o enterro do Gojoba, que seria todo custeado pelo ricaço. Passadas várias horas, o Dr. Ramsés 614 concluiu seu trabalho de embalsamar o Gojoba. Era um espocar de flash por todos os lados, de tão lindo que o Gojoba ficou. Os olhos ficaram verdes, combinando com os cabelos dourados. Os pelos do nariz e das sobrancelhas estavam milimetricamente aparados e perfumados, o queixo foi desamassado a marreta e ficou muito beautiful. Os dentes depois das esmeriladas e a mão de tinta óleo ficaram branquinhos. Botaram no Gojoba um terno Armani, um sapato de cromo alemão e enfiaram o homem num caixão de jacarandá baiano, revestido de seda da China. O velório e o enterro foi na Catedral da cidade, toda ornamentada de flores brancas e azuis, nas cores do Emelec.  O caixão foi postado no meio da igreja, e pouco a pouco foram chegando governantes, ministros de estados, presidentes dos poderes da república, empresários, artistas famosos, e no meio dessa turma chique a família numerosa do Gojoba. Ficaram próximos ao caixão, todos alinhadamente vestidos, vez por outra uma tia ia até o caixão e apertava o buchecha do Gojoba, balbuciando termos como: Gojoba, tu é do caralho. As avós beijavam o rapaz com sofreguidão de satisfação, os tios davam tapas no rosto do rapaz: Caceta tu és um herói, morreste para nos salvar. Os pais do Gojoba vez por outra denotavam estar chorando, porém botavam a cabeça dentro de caixão, e caiam na gargalhada de alegria. Esse clima começou a contagiar todos os familiares: irmãos, irmãs, tios, sobrinhos, avós e pais, que num impulso repentino retiraram o Gojoba do caixão e jogaram-no para o alto bradando: hip-urra, hip-urra, ra-tim-pum Gojoba, Gojoba, Gojoba, e o corpo do homem caiu estatelado no meio do salão da igreja. Os convidados e amigos do Gaxtão saíram de fininho, enquanto o Arcebispo tentava juntar o Gojoba do chão, um dos primos do morto saiu correndo com o caixão vazio para revender. Os parentes arrancaram o terno Armani e as demais vestes, o Arcebispo tratou de assegurar para si os sapatos de cromo alemão. Saquearam até os olhos verdes do Gojoba, a igreja foi ficando sem ninguém, o Gojoba inerte, completamente nu ficou lá por um tempo, até feder e ser enterrado como indigente na vala comum do cemitério público. Passados alguns meses, os familiares do Gojoba perderam tudo que ganharam para a Igreja que prometeu dobrar o dinheiro deles, se aplicassem na fogueira santa do Bispo Edir. Não deu certo, até as moedas derreteram. Depois disso, todos os dias amarram um tio, um sobrinho, um avô, em uma bicicleta velha e empurram o escolhido pela rodovia Deus Te Pega, esperando que outro Borox apareça.

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